domingo, 23 de junho de 2013

o quebra-cabeça

Caros amigos,

Há tempos não escrevo. Mas o assunto é de urgência importância!!
Nada menos que as maiores manifestações populares que o Brasil já viveu!


Eis algumas peças do quebra-cabeça

  - O país Brasil foi inventado em 1822. Tem 191 anos.

  - 67 anos monárquicos (um poder prevalecia)

  - 41 anos de uma república oligárquica (domínio da elite cafeeira). Existiam eleições, mas a descoberto (votos abertos),  facilmente controladas pelos coronéis. Existia um pacto entre o governo federal e os estaduais – política dos governadores. E ainda, se houvesse por um acaso assim, muito grande, algum movimento popular que conseguisse superar toda essa dominação e eleger um deputado, esse deputado certamente não escaparia da “degola” da Comissão Verificadora de Poder (comissão que validava a eleição). A isso se convencionou chamar (erroneamente) de república,  mas com um paliativo: oligárquica. República oligárquica. Ou República Velha.

  - 15 anos de ditadura

  - 19 anos de república dita populista. Um período relâmpago, inciado por um presidente de extrema direita (que inclusive aboliu o partido comunista, em plena democracia. Oi?), que vagarosamente caminhou para a esquerda progressista: foi seguido pelo GV – e a criação das gigantes estatais, JK – e o plano de metas 50 anos em 5, e João Goulart, com suas reformas de base.

  - Mais 21 anos de ditadura – dessa vez, militar.

  - 5 anos de preparos para a democratização... (Tancredo Neves/José Sarney eleito indiretamente)

  - E, por fim, 23 anos com a república que conhecemos.


  - Ou seja: dos 191 anos do Brasil, 103 anos foram de ditadura, absolutismo!

  - 5 anos de preparação(?) para a redemocratização (presidente eleito indiretamente)

  - 41 anos de uma oligarquia  (república disfarçada, dominada pela elite: qualquer semelhança é mera coincidência)

  - e os nossos parcos 23 anos de república contemporânea.

Nossa democracia é recente, frágil! Somos um país historicamente autoritário.


E estamos todos perguntando: o q está acontecendo? E aonde isso vai dar?


Bom... eu não sei.


Mas sei que na república velha, em 1904, portanto 15 anos após a instauração dessa república oligárquica, acontecia a revolta da vacina.

Foi no governo de Rodrigues Alves.

  - Rodrigues Alves foi o presidente da república velha que teve seu governo marcado pelo “quadriênio  progressistas” - 4 anos de desenvolvimento! Investiu em ferrovias, portos, urbanização e saneamento urbanos. Com a vacinação pública, pretendia-se acabar com a febre amarela e com a varíola.

  - A vacinação não foi aceita popularmente.... e o governo tomou uma atitude impopular: obrigou a vacinação das pessoas.

  - As pessoas saíram nas ruas... “Não nos obrigarão a tomar a vacina!!!”
Algum Arnaldo Jabor de época, diria: facínoras, calhordas, ululantes, mentecaptos!!!

  - E, se fosse hoje, pipocaria nas redes virtuais: “Não é só a imposição da vacina.... é muito mais que isso! É a imposição dessa política ridícula... não conseguirmos eleger deputados, essa ridícula Comissão Verificadora do Poder... o voto não ser secreto... o governo gastar absurdos para valorizar o café... E vossa mercê  a pensar que é “só a imposição da vacina” ?? Rampeiros...


  - Mas …

  - não foi hoje.

   - E a revolta da vacina foi rapidamente dominada.


  - Sei também que, apenas 22 anos depois da revolta da Vacina, em 1926, Washington Luis tomava posse como presidente.

  - O governo anterior – Arthur Bernardes – havia relegado os problemas do café aos estados!

  - W. Luis se livrou dos compromissos com os governadores extinguindo a “políticas dos governadores”.

  - Em 1929, com a crise da quebra da bolsa, negou socorro aos cafeicultores (o problema era dos estados!)

  - Também não se submeteu à política do 'café com leite', e indicou presidente contrário ao acordo.

  - Ou seja, Washington Luis desbundou com todos os principais agentes políticos da época: a elite.

  - A elite iria perder o governo?

  - Não.

  - Em 1930 houve um golpe.

...

  - Os agentes políticos tradicionalmente de direita, pouco aparecem.... Mas detém forças incríveis. Esse golpe foi bastante apoiado pela extrema direita, os integralistas, que posteriormente também foram alijados da ditadura. (Se você não compreende bem o que significa esquerda e direita nos dias de hoje, mesmo em movimentos apartidários, veja este vídeo.)

  - Em tempo: Não acho o governo de Washington Luis bom, apesar de ter sido acertadamente contrário às forças políticas da época. Ele tinha como principal lema construir estradas. Minha visão de urbanista é bem mais favorável às ferrovias. Além disso, ele promoveu repressões violentas à esquerda da época, o que sou veementemente contrário.


  No que tange ao enfrentamento desses agente políticos, da elite, situação similar aconteceu em 1964. João Goulart era o presidente.

  - J. Goulart insistia nas “reformas de base” (reforma agrária,fiscal, administrativas, eleitorais, etc).

  - Multidões o apoiavam, como no comício de 13/03/1964.

  - O então presidente peitava os agente políticos ocultos, os principais setores conservadores, os detentores do poder econômico.

  - A elite iria perder o governo?

  - Não.

  - Em 1964 houve outro golpe.

  - Golpe que também foi apoiado pela direita conservadora.... e festejada pela mídia que permanece aí até hoje. Folha, Estadão, Globo.... (veja manifestações dessas mídias aqui:  )



2013
  - Os agentes político econômicos da nossa geração estão mais complexos, elaborados.

  - Vejamos alguns importantes:
 
  - 1. Temos uma máfia dos transporte público. Elegem prefeitos e conseguem governos em causa própria. Instauram transportes ineficientes, por serem mais lucrativos.
Por isso, somos inundados com transportes ruins, ineficientes e caros (o dono da Gol linhas aéreas conseguiu criar essa empresa apenas explorando o transporte público de São Paulo). Veja esta interessante entrevista com a urbanista Raquel Rolnik, sobre transporte público.

  - 2. As grandes empreiteiras conseguem leis permissivas que aumentam exponencialmente seus lucros através de projetos nefastos, ruins e urbanisticamente degradantes.

  - 3. Agentes econômicos baseados no status quo, no consumismo e relações bancárias.

   - 4. Um mundo europeu e estadounidense sedento pelas suas antigas colônias, especialmente nesse momento de crise.

Os primeiros afrontamentos à esses agentes políticos (elite):

  - (ao 4.) O Brasil, no campo externo, insiste em agrupamentos que rivalizam com os países centrais (as antigas e novas “metrópoles”): BRICS, IBAS, UNASUL, CELAC, dentre outros.

  - (ao 3.) Uma política incipiente de valorização dos setores produtivos – com as quedas de juros, a imposição da Petrobras comprar bens industriais navais brasileiros, etc

E chegam as manifestações!!!

  - (ao 2.) A primeira indicação do que estaria além dos R$0,20 surge nas primeiras passeatas: o dinheiraço gasto com a copa

  - (ao 1.) A grande vitória para as manifestações, lideradas pelo MPL: é revogado o aumento das tarifas e se instaura uma pauta de discussão do transporte público.

Ahh... As manifestações. As manifestações tiveram início claramente de viés esquerdista: direito a um transporte público e de qualidade.

  - A princípio, outro agente político importantíssimo,  a velha mídia tradicional (5.),   foi contra. (não se engane: é a Globo, Veja, Folha, etc) . Veja o Jabor aqui, o editorial da Folha de S. Paulo aqui,  e o do Estado de São Paulo aqui.

  - Após claro apoio massivo populacional, rapidamente muda de lado... E em seguida vem a onda da direita.

-  (foram apoiadas pela mídia? Máfia dos transportes? Empreiteiras?Agentes políticos estrangeiros? Será  a famigerada elite econômica?)

-  Difícil dizer... Mas a história condena!

  - Atacam as reivindicações de esquerda, as bandeiras vermelhas odiosas, não importando que esses partidos estavam junto com as manifestações desde sempre, desde antes do A. Jabor comparar as manifestações com aquele grupo criminoso das prisões.

  - Sim, o movimento MPL é apartidário! Mas as forças políticas favoráveis a causa sempre foram bem vindas. (Veja a entrevista do MPL no Roda Viva aqui.)

  - A mídia cirurgicamente míope divulga manifestações “anti-partidárias” ou melhor “anti-partidos de esquerda”, travestidas de apartidárias. (É a mesma mídia "esquizofrênica" que diz defender a liberdade de expressão.)

  - Surgem frases como: “Não queremos comunismo!” (Sério, essa foi articulada por algum agente da CIA que foi congelado em 1964 e acordou em 2013.)


  - E agora?


  Temos a possibilidade de enfrentar essa elite:

  - As empreiteiras: com investigações sérias nas construções para a Copa

  - A máfia dos transporte público, com o plano nacional de mobilidade urbana com foco em TRANSPORTE PÚBLICO DE QUALIDADE

  - E, ainda, transformar de fato o Brasil: com 100% DO PETRÓLEO INDO PARA A EDUCAÇÃO

  - E mais: a chance única de emplacar uma reforma política mais representativa. (COMO GARANTE A CONSTITUIÇÃO).


Mas e aí...

A elite vai perder o governo?

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