sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Por trás das máscaras

Caros amigos,


Nas eleições do 2o turno, eu discordo fortemente daqueles que acreditam que “tanto faz”, “que são todos iguais”, ou ainda “que estamos entre o péssimo e o menos péssimo”.



Tentarei expor aqui as diferenças que balizaram a minha escolha, na esperança de ampliar a discussão e na convicção de que há "muito interesse por trás" para que as informações fiquem tão truncadas como estão, com propostas até aparentemente parecidas.... aparentemente.

(em tempo: A candidata que eu votei no 1o turno não está no 2o turno)
(em tempo 2: O texto é longo !!!! Mas como decidir quem seria melhor presidente com um texto curto???)













ECONOMIA


Breve relativização histórica:
  • O liberalismo confrontava o sistema absolutista vigente. 
  • Pregava maior participação política e menor Estado (Estado Mínimo vs um Estado Personificado/ Autoritário). Era um confronto com o sistema político vigente. (e portanto sofreu resistência dos conservadores da época (se vc preferir, da direita da época). Estamos no séc XVIII-XIX, (As revoluções liberais de 1848 são uma boa referência)
  • Com o tempo surgiu o conceito de Estado do Bem Estar Social, que pretendia efetivar os direitos humanos universais. (O Estado não deixaria apenas de ser personificado, mas deveria garantir a todos os cidadãos condições mínimas de dignidade humana. Assim o Estado atuaria para além da regulação do mercado, como atuante efetivamente).
  • Como revisão do liberalismo, e em contraposição ao Estado do Bem Estar Social,  surgiu o neoliberalismo – que prega o Estado mínimo com regulação do mercado, e acredita que assim a individualidade de cada um será responsável pela seu próprio bem estar. (nesse momento, por priorizar aqueles que já estão em uma situação confortável, sofre resistência dos subversivos – ou da esquerda, se você preferir)
  • Foi nesse contexto (neoliberalismo) que surgiu o “Consenso de Wasginton”, que tinha uma agenda (ou se vc preferir, "sugestões") para os países ricos e outra para os países pobres.
  •  A análise dessas "sugestões" não deixa dúvidas quanto aos objetivos da proposta:
    • Dominar economicamente os países periféricos, por:
      1.  Garantir a expansão das empresas dos países centrais e, portanto
      2.  Garantir a sua hegemonia (impossibilidade de concorrência com os países periféricos),

  • Por que? Porque na prática estabelecia uma disputa entre desiguais, onde só poderia haver um vencedor - os países de industrialização de ponta, ou os países centrais, além de exigir toda sorte de favorecimentos às empresas estrangeiras (desses países centrais), como taxas de câmbio favoráveis.
(para mata a curiosidade, eis o itens do Consenso de Washington)
  • Aos países ricos:
    • 1) Privatizações (Diminuição do Estado)
    • 2) Cortes de Assistência Social (Reforma do Estado do Bem Estar Social)
    • 3) Desregulamentação (Afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas)
    • 4) Abertura Comercial
  • Aos países pobres (ou subdesenvolvidos, ou periféricos, ou o Brasil)
    • 1) Privatizações
    • 2) Redução dos Gastos Públicos
    • 3) Desregulamentação (Afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas)
    • 4) Abertura Comercial
    • 5) Atração de investimento estrangeiro direto (com eliminação de restrições alfandegárias, taxas de juros favoráveis)
    • 6) Reforma tributária (eliminação de impostos sobre remessa de lucros, favorecimento das empresas, etc)
    • 7) Liberalização Financeira (Instituições financeiras com liberdade para atuar – sem restrições à empresas estrangeiras, etc)
    • 8) Câmbio Variável adequado ao mercado
    • 9) Direito à propriedade, inclusive à intelectual
    • 10) Disciplina fiscal.

Agora vejamos a situação do 2o turno:



  • O Aécio e o PSDB se aproximam do neoliberalismo.

    • ( O FHC inclusive adotou grande parte das “sugestões” do Consenso de Washington: privatizações - por preços inclusive inferiores aos investimentos nas empresas estatais - desregulamentação, etc.)
    • O Aécio se comprometeu a:
      •  Tomar atitudes impopulares pelo “bem do crescimento da economia” (leia-se sistema financeiro)
      •  Agir de modo a favorecer os acionistas das empresas estatais.

    • Além disso, no discurso do Aécio, há uma crítica com viés mercadológico das empresas estatais que eu não concordo.
    • O foco são os acionistas. Assim, as empresas estatais governadas com essa ideologia param de investir (porque a curto prazo investimento não gera lucro), as vezes não fazem nem os investimentos básicos necessários - por exemplo a SABESP, há 20 anos controlada pelo PSDB, não investiu o que precisava e assim São Paulo está ameaçada de ficar sem água. (Ainda que no discurso eleitoral oficial o problema seja relegado à São Pedro, quando vc tem a informação de que os encanamentos de abastecimento da rede da SABESP têm uma taxa de desperdício - é água vazando mesmo - de entre 32 a 45%, a depender da fonte consultada, fica claro que com um planejamento e investimento adequados, não passaríamos por isso.


  • A Dilma e o PT nessa eleição se aproximam mais do Estado do Bem Estar Social
    • O governo da Dilma se comprometeu com a:
      • Prioridade na erradicação da miséria 
      • saúde e educação públicas (plano de carreira para professores, "mais especialidades", royalties do pré-sal para saúde e educação)
      • prioridade de transportes públicos de grande volume  (PAC mobilidade)
      • Empresas estatais em prol do bem nacional (ver abaixo)
Algumas observações minhas sobre esse último item:


  • Pra mim está claro que as empresas estatais devem ser utilizadas para o bem da população – e não para o bem dos seus acionistas.
  • Por exemplo: manter a energia elétrica mais barata só trás benefícios ao Brasil como um todo – apesar de não trazer lucros aos acionistas
  • Energia elétrica barata significa maior competitividade dos produtos industrializados brasileiros e menor inflação, portanto melhores condições de vida especialmente para quem sobrevive com um salário mínimo ou menos.
  • Outro exemplo: exigir que a Petrobras seja fornecida com produtos nacionais reativou a indústria naval brasileira. 
  • Ainda que a princípio signifique um maior custo à estatal (portanto menores lucros aos acionistas), os benefícios para o Brasil são evidentes:
    • Fortalecimento da indústria (que gera)   
      • Maiores investimentos no Brasil  (que gera)
        • Maior oferta de trabalho (que gera)
          • Diminuição da desigualdade social  (que gera)
            • Maior produção interna e maiores lucros ao Brasil (que gera)
      • Maiores investimentos no Brasil (... )  (fechando um círculo virtuoso!!)

  • Aliás, uma das grandes virtudes do atual governo é justamente a DIMINUIÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIAL.
  • O Brasil pela primeira vez vislumbra uma queda na desigualdade social e, mantendo o ritmo atual, em 12 anos teremos uma desigualdade social equivalente à desigualdade social dos EUA de hoje



  • Quero enfatizar: a política representada pelo Aécio irá priorizar o lucro máximo. E me parece evidente que utilizar a lógica do lucro máximo para as áreas fundamentais do bem estar, como o sistema de transporte, p. ex., será calamitoso, desastroso. 
  • Para o sistema de saúde, educação, idem. 
  • Porque elas são estruturas que se gerarem lucro (ainda mais o lucro máximo!), não servirão da melhor maneira à sociedade – aliás, não servirão de forma alguma à sociedade. (como no exemplo da SABESP acima)


Assim, eu não consigo ver que não há diferenças... as diferenças me parecem gritantes.

Como o meu "Estado ideal" é aquele que tem um Estado do Bem Estar Social bastante desenvolvido, (os países Nórdicos se aproximam bastante, por exemplo), nesse 2o turno eu voto Dilma, porque ela está mais próxima desse Estado.


Sobre as duas vertentes políticas possíveis, interessante artigo no "Le Diplomatique" :
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1601

POLÍTICA EXTERNA



  • Nos últimos 12 anos, o Brasil vem desenvolvendo uma política externa com prioridade nas relações do chamado SUL-SUL, que são acordos e aumento da parceria com outros países periféricos
  • Nesse contexto que se formou a
    1)  UNASUL,
    2)   os BRICS,
    3)  o banco do BRICS (que sofreu – e sofre – grande resistência dos EUA, pelo papel estratégico desse banco) ,
    4)  o fortalecimento do Mercosul,
    5)  participação ativa do Brasil na África,
    etc.
  • Essa política propiciou ao Brasil uma independência econômica relativa dos países centrais, que permitiu enfrentar a maior crise dos países ricos desde a quebra da bolsa de NY em 1929, de forma bastante tranquila.
(O desemprego na Espanha, Portugal e Grécia chegaram a incríveis 40%. Aqui está em 5% - uma das menores da história)

  • Ainda assim, em termos absolutos o Brasil aumentou a participação econômica com os países centrais, mas como teve um aumento estrondoso de participação econômica com os países periféricos, a participação RELATIVA com os países centrais diminuiu. (Ou seja, manteve-se relações comerciais com o MUNDO - e não com alguns países, como desejam esses próprios países.

É sempre bom lembrar do enorme reconhecimento internacional das políticas externas brasileiras dos últimos 12 anos. (Eleição do Roberto Azevedo para diretor geral da OMC, consagração do ministro Celso Amorim como chanceler de maior destaque internacional, fortalecimento do Mercosul, criação do banco dos BRICS, etc.)



  • O Aécio está na contramão dessa política. Defende uma política externa alinhada com os interesses dos países centrais – especialmente com os EUA.
  • Prega, por exemplo, a participação do Brasil na aliança de livre-comércio do Pacífico Sul, (tipo a ALCA, mas por enquanto com os México, Colômbia, Peru e Chile com os EUA )
  • Defender o livre-comércio, como estabelecido na aliança do pacífico, é eliminar qualquer possibilidade do Brasil de se colocar como um ator global de importância.

(Os países centrais estabeleceram políticas protecionistas até o pleno desenvolvimento de suas indústrias, e agora exigem que os outros países abram seus mercados. Um interessante ensaio sobre o assunto chama-se “Chutando a escada”.
 A Inglaterra, por exemplo, decretou em 1651 o “atos de navegação”, que impunha que somente os navios ingleses poderiam importar produtos para a Inglaterra, o que marcou o inicio do domínio dos mares pelos ingleses. )

  • Inclusive o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães demonstrou que o ingresso do Brasil na Aliança do Pacífico Sul significará o fim do Mercosul.
(Confira:)



  • Em outras palavras, o Aécio prega uma política externa submissa aos interesses das potenciais internacionais e pretensamente impositiva às economias dos países ainda mais subdesenvolvidos que o Brasil.
  • A Dilma está no caminho inverso, de estabelecer uma política externa independente das grandes potências mas pragmática e priorizando o chamado SUL-SUL.



Como eu acredito que o Brasil pode ser grande, independente e fundamental para o desenvolvimento periférico do mundo,

no 2o turno meu voto é na Dilma.




CORRUPÇÃO


Acho bastante risível quem se vale dessa artimanha para justificar seu voto, considerando:

  1. Que a disputa está entre o PSDB e o PT
  2. Que o nosso sistema político é a causa da corrupção generalizada.
Ou seja, não se trata de escolher entre alguma organização política que conseguiu subverter o sistema e chega incólume ao 2o turno. Ambos os lados se valem das falhas legislativas para benefício próprio. O que não significa que tenham o mesmo plano de governo, a mesma forma de governar, etc...  

Mas se você é um desses leitores ( e elitores!!! hehe) que prezam pelas querelas  (a um estilo de torcidas organizadas... só que na política), saiba que a grande mídia tem um lado (do sistema financeiro, lucro máximo etc,) e portanto fará de tudo para te convencer que o problema é do partido que ela é contra.

(Confira aqui: http://www.manchetometro.com.br/ )


Mas como você chegou até aqui, tenho certeza que você é ávido por informação.
Eis aqui um bom exemplo de como a corrupção é sistêmica:

  • casos de corrupção:
    • Cartel da CPTM/Metro (Trensalão tucano): entre R$577mi e mais de R$2 BI (dependendo da fonte)
    • Caixa 2 do PT (Mensalão): entre $55mi e R$146mi (Dependendo da fonte)

( e só pra não ficar apenas criticando o Estado)
    • Sonegação da Globo com a copa de 2002: R$615mi ( R$2BILHÕES em valores atualizados - 2014 )
Porque é evidente que o problema é sistêmico, eu apoio a convocação da assembleia constituinte exclusiva, para rever as “regras do jogo”.



Mas pelos outros motivos aqui expostos, eu apoio a Dilma.




Bom dia....

e boa sorte!


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