terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Política na América Latina

Caros amigos!!

- Reproduzo aqui ótimo artigo do Rodrigo Vianna, em seu blog " O escrevinhador" ( clique aqui para acessá-lo)

em tempo: para visualizar as imagens postadas junto ao texto, visite o blog "O escrevinhador"























"América Latina: esquerda, volver; direita, vai ver...


Evo Morales acaba de dar uma surra na oposição, na Bolívia. Isso nem chega a surpreender. O que surpreende é o fato de as siglas tradicionais da centro-direita boliviana estarem à beira do colapso: o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), de Víctor Paz Estensoro, e a Ação Democrática Nacionalista (ADN), de Hugo Bánzer, e o MIR (que deu apoio ao governo liberal de Sanchez de Lozada) já tinham entrado em decadência antes de Evo Morales chegar ao poder.

A direita "inventou" uma força opositora a Evo, o "Podemos" - que até recentemente dominava o Senado boliviano.

Pois bem, o "Podemos" também se desintegra. A oposição boliviana não tem partidos, não tem discurso - a não ser afirmar que a popularidade de Evo ameaça a democracia. Que piada. O que ameaça a democracia são os golpes que a direita sempre apoiou.

A direita, na Bolívia, sobrevive na mídia e em movimentos que pregam a secessão, a divisão territorial do país - como em Santa Cruz de la Sierra... Ou seja: a direita se aloja em movimentos regionais, sem força nacional.

Mas o desmanche dos partidos tradicionais não é um fenômeno só da Bolívia.

Na Venezuela, a AD e o COPEI (que dominaram a politica nacional durante a segunda metade do século XX) viraram partidos nanicos.

O PSUV de Chavez é majoritário, em aliança com o Partido Comunista da Venzeuela (que preferiu não se dissolver no partido chavista).

A direita na venezuela precisa "inventar" novas siglas, porque as velhas ruíram quando o neo-liberalismo afundou.

Na Argentina, a UCR (que não é de direita, mas de centro; um partido liberal, com fortes raizes na classe média portenha, e que sob o governo de Alfonsin teve papel fundamental na redemocratização do país pós ditadura) chegou à beira do colapso, depois do governo de De la Rúa (que fugiu do palácio de helicópetero) e quebrou a Argentina.

Os setores mais à direita no peronismo também naufragaram depois que Menem (um peronista que adotou a agenda neo-liberal) acabou com o que restava do Estado argentino.

A direita argentina já "inventou" uma nova sigla: o PRO. É comandado por Macri, uma espécie de Berlusconi local - homem rico, dirigente do Boca Juniors, tenta cooptar o eleitorado de direita nas grandes cidades (especialmente na grande Buenos Aires.

No Uruguai, o último pleito mostrou a decadência do velho Partido Colorado. Rival histórico do Partido Nacional, aceitou apoiar Lacalle (candidato do Partido Nacional) no segundo turno, para evitar a vitória da esquerda. Os dois apanharam juntos, e terão que se reinventar para fazer frente aogoverno de Pepe Mujica, da Frente Ampla.

O Chile talvez seja exceção nesse processo.

No país andino, o centro (desde o fim da ditadura de Pinochet) mantém uma aliança firme com a centro-esquerda do Partido Socialista. A direita, isolada, perdeu todas as eleições, mas não perdeu a direção. Até porque, no Chile, a direita não renega a ditadura de Pinochet. Defende Pinochet, defende o programa liberal (na economia) que ele implantou.

No Chile, a direita é mais "orgânica", e tem chance real de ganhar a próxima eleição - sob o comando de Sebastián Pinera, um milionário local.

E o Brasil?

Aqui, o quadro é mais confuso, mais matizado...

O colapso da economia, nos anos 80, não provocou o enterro das duas velhas legendas: PMDB e PFL. Eles perderam o centro do poder, mas sobreviveram nas beiradas, costurando alianças com tucanos e petistas.

O PMDB mantém-se no poder com Lula. Cada vez mais fragmentado.

Já o velho PFL passa por um processo semelhante ao da direita na Venezuela e na Bolívia. Mudou de nome (DEM) em 2007. Adotou um tom "liberal" no discurso, e preparou-se para ser o partido das classes médias conservadoras e liberais: contra os impostos, contra a corrupção.

Mas a danada da realidade atrapalhou tudo.

O DEM é uma caricatura.

O escândalo dos panetones põe o partido na lista das legendas em extinção. Com a expulsão de Arruda, deve perder o único governo que possuía (do Distrito Federal).

Dos 13 senadores que possui, 8 terão que passar pelo teste das urnas em 2010. Há risco concreto de encolher para uma bancada de 8 ou 9 senadores. E de 30 a 40 deputados.

Os tucanos (ao contrário da direita chilena) parecem envergonhados de defender o legado neo-liberal de FHC. Isso pode custar caro.

O partido viu sua base definhar no Congresso. E só sobrevive com algum destaque porque domina dois Estados importantes: São Paulo e Minas.

Falta identidade à direita brasileira. Falta programa.

No quadro partidário, ninguém cumpre o papel de encampar o discurso da direita. O DEM havia levantado velas, e preparava-se para ocupar essa raia. Mas parece que naufragou antes de chegar a mar aberto.

Não acho isso bom. A direita é uma força política, real, na sociedade brasileira. Se não se sentir representada politicamente, pode aderir a aventuras extra-institucionais (gostaram do eufemismo para golpe?).

O desespero que vemos nos colunistas e comentaristas da mídia corporativa indica o grau de desespero dessa turma. No Brasil, a direita sobrevive na mídia!

A desagregação política da direita na América Latina é um fato. No Brasil, esse fato ganhou uma imagem simbólica a representá-lo: as propinas do DEM.

Uma nova direita deve surgir. Espero que surja como opção política. Não como gangue, nem como aventura fora dos marcos da democracia. "


(clique aqui para conferir o artigo e os comentários dos leitores no site "O escrevinhador")


Bom dia!!!



.... e boa sorte!



fonte:
blog do Rodrigo Vianna - O escrevinhador

2 comentários:

O Tempo Passa disse...

O importante, em uma democracia, é todos serem representados condignamente. E as diferenças serem aceitas e respeitadas.
Na Am Lat em geral isso não acontece. Os partidos nem representam as diferentes opiniões do povo, nem - quando representam - o fazem com dignidade. É puro egoísmo, na busca insana por poder, status, grana. Não há respeito pelas diferenças, não se leva em conta a opinião do povo, não se almeja o bem comum.
Portanto, a decadência da direita na Am Lat não valoriza, de forma alguma, a esquerda, que é tão ruim quanto.
Há esperança para a Am Lat? Há, sim.
Eu só não a vejo...

Unknown disse...

A falta de ideologia partidária iria resultar em crise em algum momento. A grande maioria dos próprios politicos eleitos nao sabe qual a diferença do partido dele para um outro partido, por isso mudam de legenda a qualquer hora. Imagine o eleitor então.
Na década de 90 ficou aquela divisão entre o PT e o PSDB, um tinha o discurso (neoliberal) que era preciso crescer economicamente para enriquecer a população e melhor a condição de todos, o tempo deu conta de mostrar que isto era uma grande bobagem - porque só gerou mais concentração de renda na elite e as camadas mais pobres perderam cada vez mais poder de compra - se empobreceram mais (Além de tudo ainda contribuíram para "ferrar" com o poder do Estado). Já o discurso da esquerda, de apostar o desenvolvimento em políticas sociais era sempre contestado pela direita.
Porém, o ultimo mandato do Lula fez a direita entrar em crise, porque aliou-se crescimento economico com melhoria social. Neste quadro, o que sobra para a direita oferecer ao eleitor? Moralidade (sic)? Neoliberalismo 2.0? Propaganda de escândalos generalizada? Mesmo que sejam inventados?
Lembrando também, que a própria esquerda passou por uma crise depois do final do comunismo. Agora falta a direita enfrentar seus próprios demônios.
Mas como já disseram, para a saúde da democracia é importante a existencia dos dois lados da moeda.

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