- Caro leitor
- Se quiser apenas ver mais um absurdo do nosso prefeito 'demo' Kassab, vá direto ao fim dessa postagem! (mas se quiser compreender um pouco melhor as implicações, continue lendo!!)
- A elaboração de uma cidade começa pelo planejamento dela. (ou a inexistência dele!)
- Para os desavisados, sou arquiteto urbanista, e recentemente me deparei com um exemplo muito instigante de planejamento(?) urbano!!
- Mas antes recomendo, caro leitor, que você compare pelo google maps as cidades de São Paulo e Londres. (pra facilitar, vou colocá-las aí embaixo, mas se você quiser explorar mais, clique aqui)
regiões centrais de Londres e São Paulo
- Vista de cima, pelo satélite, qual será a mais agradável de se viver?? Londres tem mais verdes e principalmente espaços públicos, área de convivência, parques, praças, etc.... São Paulo...bom... sabemos que os espaços verdes da região central de São Paulo não são espaços públicos, mas espaços residuais principalmente devido ao traçado e adensamento urbano - o maior deles na foto é a ilha do parque Dom PedroII.... Qual cidade será mais prazerosa de se viver??
- Considerando somente a cidade, obviamente, Londres é uma cidade muito mais agradável!!
- Mas São Paulo pertence a um país historicamente explorado.... Londres está num dos países mais ricos do globo....
- Vejamos então nossos hermanos, que tinham as mesmas condições de desenvolvimento que nós: Buenos Aires:
região central de Buenos Aires
- Buenos Aires é conhecida por ser a cidade dos parques !!
- Os respiros, os espaço de convivência, os espaços públicos estão intrinsecamente ligados ao planejamento de crescimento da cidade, dependem muito mais de uma visão de cidade coletiva do que das riquezas do país (claro que quanto mais rico, mais fácil de executar as obras necessárias, mas isso não é fator determinante)
...
- pois bem... 'recentemente me deparei com um exemplo de planejamento(?) urbano muito instigante ...'
- Em meio a uma região que está sofrendo um grande adensamento e valorização econômica, eclodindo toda a sorte de condomínio fechados e torres residenciais, com uma velocidade inacreditável, numa cidade do interior de São Paulo, São José dos Campos:
- um terreno muito extenso (com evidente potencial econômico muito elevado):
- com uma característica muito peculiar: abrange uma zona de fundo de vale, com um pequeno rio cortando quase que o fim do terreno:
- São José dos Campos tem um plano diretor bem detalhado, que deveria nortear o crescimento da cidade. Eis o planejamento das vias já existente no plano diretor para essa região da cidade:
legenda:
contínuo - existente
tracejado - planejado
azul escuro - via expressa
azul claro - via coletora
- Com a explosão imobiliária da região, o poder público passou a investir também nessa região de forma mais acelerada (costumeiramente: aonde mais dinheiro mais próximo estará o poder público...), e fiquei sabendo que algumas das vias que estavam planejadas no plano diretor já estavam construídas - mas ainda não apareciam no google.
-Quando cheguei no local para levantamento de campo...." Mas...mas... aonde está o rio??? Aonde?? hmmm.... a rotatória está ali... os lotes.... o fundo de vale... então o rio está...está.... estava aqui!!!"
- eis o mapa atualizado:
- Essa via não estava planejada. Tamponar o rio não estava no plano diretor.
- Por que construir uma via tamponando um rio, que não estava planejada?
- Será sustentável tamponar um rio? Será símbolo de desenvolvimento? Estamos devolta a década de 20??
- Uma região tão valorizada, ter uma via coletora JÁ construídas antes mesmo do loteamento estar pronto? Ou ao menos aprovado?
- Por que? pergunto eu... Por que???
- caros leitores.... existe uma lei muito precisa no Brasil que implica em preservar no mínimo 30 metros das margens do rio (e no mínimo 50m se for uma nascente), como área de proteção permanente - as famosas APP.
- Essa região só poderá ser ocupada caso seja de usufruto coletivo, para o bem público, desde que devidamente preservada ( Se você estiver em São Carlos, não perca a oportunidade de ler o TGI de Bruno Granado, disponível no CDoc da Arquitetura - USP São carlos - onde ele disserta exatamente sobre os usos das APP - ainda não disponível na internet)
- Isso implica em parque públicos, parques urbanos, parques lineares, enfim, uma variedade de espaços públicos de bem comum.
- Mas veja, caro leitor, que esse rio, ao ser tamponado, para todos os efeitos, não existe mais!!
- É um clássico exemplo de fomentação da especulação imobiliária pelo poder público!
- Ora, um terreno com uma área de proteção permanente - APP - é evidentemente um terreno mais, digamos, complexo de ser 'trabalhado' pelos loteadores.
- Agora temos um terreno limpo!!(??)
- Não é curioso, caro leitor?? Como resolver um problema do loteador, pelo poder público!!
- Nada de APP nesse terreno!! Mas não tinha um rio passando aqui?? Rio???? Que rio?????
- O poder público fomentando o lucro máximo do poder privado.... em detrimento ao bem coletivo!!! Na contramão de toda a sustentabilidade tão em voga nos dias de hoje....
- Dirão alguns que existem leis que garantem uma porcentagem do terreno a ser loteado como sendo áreas institucionais, e mesmo área verdes.... Sim sim... como existiam leis que garantiam os espaço livres do Anhangabaú, no entorno do teatro municipal... (recomendo a leitura do livro; " São Paulo: três cidades em um século" de Benedito Lima de Toledo) aliás, como existem as leis de 'área de proteção permanente - APP'....
- O fato é que o terreno com a APP teria menos área passível de ser loteada e mais áreas coletivas, parques urbanos, espaços públicos....
- e o tererno SEM as APP tem mais área a ser loteada e MAIS LUCRO!!
- Não é impressionante???
- A prefeitura tamponar um rio para o loteador lucrar mais???
- Impressionante!!
- Dirão outros... mas assim a cidade terá mais IPTU.... mais dinheiro...
- é... mais dinheiro... e menos espaços públicos.... e menos vivência... menos convivência.... menos respiros.... menos áreas livres..... pobre cidade rica...
- O problema não é o dinheiro.... o problema é a visão da cidade.... não há visão de cidade coletiva... logo não há fomento a convivência...
- as implicações são as piores possíveis.... medo do próximo... nichos de lazer para quem tem poder aquisitivo.... direito a cidade restrito aos abonados....
- e o resultado será dramático...
.....................................................................................................
- Mas estou escrevendo isso para tentar demonstrar a preocupante postura do nosso prefeito 'demo' Kassab....
- Tendo em vista, caro leitor, esse exemplo clássico de como o poder público pode fomentar o lucro do individual em detrimento ao bem estar do coletivo, veja o que está acontecendo em São Paulo, e tire suas próprias conclusões:
- Kassab defende um projeto que permitiria ao poder executivo rever diretamente o plano diretor da cidade, segundo seu bel prazer. (clique aqui para ler essa notícia nos jornalescos de São Paulo.... )
Bom dia.... e boa sorte!!
fontes:
site da prefeitura municipal de São José dos Campos (http://www.sjc.sp.gov.br/)
Google maps (http://maps.google.com.br/)
Google livros (http://books.google.com/books)
O Estado de S Paulo (PIG) (http://www.estadao.com.br/noticias/geral,kassab-defende-revisao-do-plano-diretor-na-camara,391650,0.htm)
Trabalho de Graduação Integrado de Bruno Granado - vulgo Maciota (disponível no CDoc da arquitetura da USP-São Carlos - ainda não disponível na internet)
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terça-feira, 23 de junho de 2009
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8 comentários:
Taí mais uma razão para ser contra reeleição: um grande erro tem chance de ser corrigido pelo próximo governante antes de ser tornar irreversível...
Quanto ao exemplo: os últimos governantes de SJCpos parecem ser muito "desenvolvimentistas", mas são é muito ruinzinhos, isso sim.
E o Kassab... ora! Preciso dizer?
Fala ae Pedrão!!
Belo texto, legal você levantar a bola. Isto provavelmente deve ser apenas a ponta do iceberg em SJosé dos Campos. Porque quem investigar de leve vai achar outras "ligações" interessantes entre o poder público e o privado. Somente neste empreendimento.
E sobre a prefeitura de SPaulo: O plano diretor deve incomodar demais este pessoal. E era esta a intenção inicial.
Porém, eles irão arrumar algum instrumento que simplesmente inviabilize ele. Jogar na categoria do "faz de conta". Como é tão comum neste país.
Do mais acompanhando. Gosto mais quando você escreve os textos do que "linka" alguma matéria. Mas é só uma opinião.
Abração
Henrique Siqueira
Fala Pedro.
Você foi até São José ou entendi errado?
Cara, muito interessante sua análise. Pelo jeito os cursos de arquitetura e urbanismo podem contribuir muito para a sociedade.
São José é igual São Paulo: uma cidade dos particulares, uma cidade cega pelo bem-estar econômico, que elege o prefeito visando "manter as coisas como estão".
Não sei qual comentário meu você leu no PHA. Vivo criticando naquele site, o fato de o PSDB joseense expandir a cidade para "tirar a pobreza dos olhos da classe média". Há edifícios abandonados numa área do centro expandido de SJC. Mas o prefeito prefere expulsar os sem-teto e criar um bairro longínquo para os favelados do centro, do que desapropriar essas construções abandonadas e colocar ali as pessoas que não têm habitação. Vale ressaltar que uma favela e um bairro pobre foram removidos por causa de um Carrefour. Mais uma vez o poder público abraçando os grandes interesses privados. O bairro para onde as pessoas foram mandadas é ultra-longe: ônibus só de 1 em 1 hora. A população pobre que ia a pé para o serviço, agora tem de pagar passagem.
Mas como os joseenses acham que os direitos na verdade são concessões, acabam acreditando que a prefeitura "fez mais que o suficiente" por aquelas pessoas retiradas do centro e atiradas às margens da cidade.
Infelizmente, essa ditadura da visão de mundo pobre (o neoliberalismo) é mtu forte lá tbm por causa do PT, que desviou dinheiro da prefeitura. A ex-prefeita do PT vc conhece, Angela Guadagnin, a deputada da Dança da Pizza.
Em certos aspectos, SJC é pior que São Paulo: lá os tunganos ganham em primeiro turno. Será que os joseenses vão esperar a cidade virar uma São Paulo para mudar? Vamos ver...
Abraços,
Lucas
Aliás, Pedro... o que seria esse tampão no rio? Isso soa escabroso!
Tentei identificar ql bairro é mas não consegui.
Abraço
o pedrao, ótima analise, imagina se fosse habito coletivo olhar a cidade desse jeito, alias, a gente tem que achar uma manera de sair do PREACHING TO THE CONVERTS... por que se nao a coisa nao vai mudar.
abração
boa Pedrão e valeu pela menção hehe!
Boa Pedrão!
Aliás, sobre o Parqeu Dom Pedro gostaria tambémd e indicar um ótimo trabalho de graduação, tam bém disponível no Cedoc da Arquitetura da EESC-USP, de um amigo meu, um tal de Pedro Desgualdo.
Acho que houve um erro no ponto de partida de sua análise, a partir disso você foi tirando conclusões erradas a respeito dessa área. O pior de tudo é ver os comentário acima concordando com ela. Acho lamentável a falta de responsabilidade de um especialista ao publicar um texto como esse, pois aqueles que leem, tomam isso como verdade.
Pois bem, se você olhar pelo Google Earth pode perceber que, aquilo que você chamou de "rio" nada mais é do que a continuação de um canal artificial que foi feito para a irrigar a plantação existente no lado direito da estrada. Veja mais acima que o canal é quase uma linha reta que se estende até o rio Paraíba do Sul, próximo a ponte.
Mais atenção da próxima vez.
ATT - Rodolfo Tanno
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